Artigo: O campo econômico

Autores

  • Pierre Bourdieu

DOI:

https://doi.org/10.5007/%25x

Resumo

Com base em pesquisas desenvolvidas a respeito da economia da casa própria, trata-se de construir uma teoria econômica que respeite mais a lógica prática dos agentes, integrando as condições econômicas e sociais da gênese das disposições econômicas. Isto implica conceber o “mercado”, tal como freqüentemente pressuposto pela ortodoxia econômica, como o produto de uma construção social. O campo econômico é um universo regido por leis específicas, resultando de um processo de diferenciação histórico, entre as quais se destaca em primeiro lugar a busca do interesse propriamente material. Contrariamente ao que implica uma visão mecanicista, os agentes econômicos criam o campo como campo de forças, ao deformar em graus variáveis sua vizinhança, como na física einsteiniana. O princípio das ações econômicas e as margens de liberdade dos agentes devem ser procuradas – conforme os ensinamentos da tradição de Harvard – na estrutura do campo, isto é, na estrutura da distribuição dos diferentes capitais e nas relações de forças correspondentes, que não se reduzem nem a interações nem a ajustes mecânicos. O campo econômico é um campo de lutas, onde os preços são alvos e armas no quadro das estratégias das empresas (explicitadas pelas teorias de administração), que dependem da estrutura do campo e, em particular, das relações de dominação que o caracterizam. O capital tecnológico desempenha um papel importante na subversão das hierarquias estabelecidas, notadamente ao levar à redefinição das fronteiras entre os campos. Mas as próprias empresas são o lugar de lutas que contribuem para a determinação de suas estratégias, estas dependendo ao mesmo tempo da estrutura da distribuição do capital entre os dirigentes e da posição da empresa no campo. As estratégias de uma empresa dependem também estreitamente das relações de homologia que se estabelecem entre sua posição no campo de produção e a de seus clientes no espaço social, o que faz da competição econômica um conflito destrutivo, mas indireto. A noção de habitus permite substituir a construção escolástica que é o homo oeconomicus por uma concepção realista da prática econômica: ela é o produto de antecipações razoáveis baseadas sobre a relação obscura entre disposições e um campo. Este ajustamento prático faz da teoria “neoclássica” uma ilusão bem fundada, que encontra uma validação suplementar na força social atribuída a este discurso. Ao fornecer às teorias econômicas um fundamento antropológico que outorga um lugar central à gênese social das disposições, como a racionalidade econômica, contribui-se para devolver a economia à sua verdade de ciência histórica.

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Publicado

2005-01-01

Edição

Seção

Dossiê Temático